Entre os noticiários televisivos, fala-se muito na "febre do Natal", uma verdadeira festa para comerciantes e consumidores que podem ir às compras, é claro! Não é o meu caso, nem o caso dos catadores de papel que me abordaram na noite de ontem, quando, após rever minha amiga Cyra, a quem não encontrava havia anos, e acompanhá-la até um táxi, voltei para o prédio onde resido.
Algumas pessoas passavam, mas foi a mim que os catadores se dirigiram, pedindo-me dinheiro para que comprassem café com leite e pão, pois tinham fome. Porém, eles falaram comigo de forma tão carinhosa que me senti mal por não dispor de qualquer valor - o que era a mais pura verdade! Os dois homens não exalavam cheiro de bebida, cigarro ou maconha. Desfaziam as caixas que pegavam do lixo do prédio e dobravam cartões e cartolinas com cuidado: era o cuidado de quem sabia que aquilo era (e é) sua subsistência.
Falei-lhes sobre o quão lamentava não poder ajudá-los e, diferente de muitas pessoas, que desconfiam ou que até nos mandam para aquele lugar, os dois demonstraram acreditar em mim. Agradeceram, perguntaram se eu era cristã, ao que eu disse "sim", e me desejaram um "Feliz Natal". Ao saber que eram irmãos, desejei o mesmo a eles, e, apontando para o meu apartamento, disse:
- Moro aqui, bem aqui, mas meu Natal será, de certa forma, como o de vocês: sem presentes mas de muita união. Meu marido, eu e os nossos cachorrinhos vamos passar o dia bem juntinhos e vamos orar a Jesus e a Deus, que é o Pai de todos nós. Sim, somos todos irmãos de Jesus! E, se vocês permitirem, quero abraçar vocês e, pelo meu abraço, desejar-lhes saúde, união e tudo de bom para vocês. Posso?
Os dois e eu, com os olhos marejados, nos abraçamos e rezamos juntos um Pai-Nosso, por sugestão de um deles. Depois nos despedimos fraternalmente e segui meu caminho. O portão do prédio estava próximo.
Já no nosso apartamento, e sentindo-me muito cansada, concordei com meu marido e fomos todos para a cama: nós e os cachorrinhos, é claro! E aí contei sobre os dois homens. Lembrei-me de um bisavô que não cheguei a conhecer... Ele trazia para casa pessoas pobres e famintas que encontrava na rua. E mandava providenciar uma refeição bem quentinha a todos. Os tempos eram outros, a violência já existia mas era exígua, e um costume como esse do meu bisavô nunca resultava em qualquer tipo de dissabor. Hoje, infelizmente, tudo mudou, a vida ficou feia, muito feia...
Gostei muito de encontrar os dois catadores de papel e de abraçá-los e de orar com eles. Entretanto, não dava para trazê-los ao nosso apartamento, por tantas e tantas razões que me reservo o direito de não explanar aqui. De qualquer forma, meu coração, já alegre por rever minha amiga Cyra, ficou mais alegre ainda por esses instantes de sincera fraternidade.
E hoje, ao invés de publicar o texto que vinha preparando, resolvi compartilhar com os leitores deste Blog um outro texto meu, escrito há algum tempo, mas igualmente verdadeiro. Para cristãos e não cristãos. Para crentes e descrentes. Espero que gostem e que sintam, durante a leitura, o meu mais fraterno abraço no coração e na alma de cada um de vocês.
AS ESTRELAS DE DEUS E AS ESTRELAS DOS HOMENS
Era o dia 2 de janeiro de 1997, e meu marido e eu estávamos a bordo de um Airbus 340-300 da companhia espanhola IBERIA, em voo que saíra de São Paulo na noite do dia anterior. O nosso destino final seria Londres, onde ficaríamos uma temporada para que eu fizesse parte da minha pesquisa de mestrado. Esse voo com a IBERIA, portanto, pressupunha uma escala em Madri para troca de aviões.
Estava sem noção de tempo e espaço. No avião, todos dormiam. Decidi abrir a janelinha e fiquei observando as estrelas por um longo tempo. Aproveitei para orar. As estrelas pareciam viajar, lado a lado, com o avião... Em verdade, é claro, era o avião que se movia! Mas as estrelas reluzentes também mostravam que não estavam estáticas no Universo: elas pulsavam, pulsavam, como corações perfeitos. Contração, dilatação. Sístole, diástole. E, ao olhar para baixo, tive uma bela surpresa! Lá fora, naturalmente, predominava o escuro. Pudera! Além do horário, estávamos em pleno inverno europeu! No entanto, o tempo devia estar limpo, pois, da minha janelinha, fiquei emocionada com uma espécie de presépio que podia ver à minha esquerda, lá embaixo. Eram luzes!
Lembrei-me de meu pai, Francisco (encarnado na época, sendo transferido para o Plano Espiritual em setembro de 2006). Em todos os Natais ele perguntava:
- Mônica, sabe quem fez o primeiro presépio do mundo?
Eu sabia a resposta, mas meneava a cabeça negativamente, pois percebia que ele se esquecera de que já me havia contado a história. E, como ele queria contá-la, melhor deixá-lo feliz. Então ele me dizia que fora Francisco de Assis o primeiro a montar um presépio para perenizar a cena da Natividade de Jesus. E também contava o ano em que isso acontecera (1223) e sua fonte (meu pai nunca se apropriou de informações alheias, fossem elas acadêmicas, ou, como no caso, de almanaque). A informação estava num daqueles calendários de parede em que o usuário deve diariamente destacar uma página. No verso da página referente ao dia 25 de dezembro estava a história sobre o presépio de São Francisco de Assis.
Deixando meus devaneios natalinos para trás, comecei a checar os mapas que tinha em meu poder, posto que adoro viajar e curtir todos os momentos da viagem. Também tratei de observar os monitores a bordo, que acabavam de ser religados, provavelmente para despertar os passageiros de forma suave e tranquila. Pude comprovar que estávamos margeando o litoral sul português, e que o que eu contemplava era exatamente a cidade de Faro. Perguntei a uma “azafata” (comissária de bordo, em espanhol) e ela confirmou:
- Sí, es Faro, una ciudad portuguesa.
Os mapas estampados nos monitores do avião mostravam que logo entraríamos no espaço aéreo espanhol, numa rota que sobrevoaria Sevilha antes do destino final, Madri. A tripulação serviu-nos o café da manhã e os monitores começaram a mostrar imagens da Espanha. Quando nos aproximávamos da capital espanhola, já em manobras de aterrissagem, ouvimos a voz do comandante espanhol, que dizia:
- ¡Mirad! Arriba las estrellas de Dios y, abajo, las estrellas de los hombres, las luces de la bella capital española. Ojalá un día la paz de las estrellas de Dios pueda también reinar en las estrellas de los hombres de todo el mundo. (Vejam! Acima as estrelas de Deus e, abaixo, as estrelas dos homens, as luzes da bela capital espanhola. Tomara que um dia a paz das estrelas de Deus possa também reinar nas estrelas dos homens do mundo inteiro.)
Eu, Mônica, faço coro com o comandante Moreno
(era este o nome do inspirado senhor espanhol)
e desejo muita PAZ a toda a humanidade!
Feliz Natal e Feliz 2011!
Obrigada!
(era este o nome do inspirado senhor espanhol)
e desejo muita PAZ a toda a humanidade!
Feliz Natal e Feliz 2011!
Obrigada!
P.S. Também estou com febre, mas, infelizmente, é febre de verdade. Só não sei se é de fundo emocional (pois tenho me aborrecido muito) ou é doença mesmo. Minha febre, portanto, não é do tipo "consumista", que toma conta de muita gente nesta época do ano, rsrsrs... Quisera que fosse!