Na postagem passada – PRECISO GRITAR –, compartilhei com vocês, meus queridos leitores, a dor de cabeça estrondosa que me consumia intermitentemente desde 29 de outubro. Contei, também, que um médico me receitara um medicamento controlado, no qual eu colocava toda a minha fé. E quando consegui a “grana” para ir à drogaria, comprá-lo e tomá-lo, ufa! que alívio!!! Foi incrível a sensação de não mais ter a dor! De tanta alegria, cheguei a duvidar e, para dissipar quaisquer dúvidas, dei murros na cabeça, chacoalhei-a vigorosamente, e nada. Nenhuma dor. Ebaaaaaaaaaaaaa! Livre, livre, livre!
Porém, o médico que prescreveu a maravilha deixou claro:
Pois agora não sei o que é pior: a dor de cabeça, o fantasma do tumor cerebral, ou achar um neurologista, principalmente um que seja, acima de tudo, humano.
Primeira tentativa (unidades clínicas do plano de saúde):
Minha busca começou com o plano de saúde, que mantém três clínicas com várias especialidades na cidade de São Paulo. Ao contatar aquela perto do meu endereço residencial, ouvi o seguinte:
- Esta especialidade não existe mais aqui, nem nas duas outras unidades. Na verdade, há uma com a especialidade, mas só atende pessoas que operaram a coluna. Ah, mas o médico que atendia aqui deixou o telefone do novo consultório dele. Interessa?
Segunda tentativa (telefone que me foi oferecido):
A secretária que atendeu perguntou:
- É particular ou convênio?
- Convênio.
- Qual o plano de saúde?
Falei qual era e ela disse que o médico atendia tal plano. Pediu-me que esperasse um pouco, pois ia ver a agenda do profissional. E me deixou pendurada no telefone. Às vezes, voltava, e, ao identificar que era eu do outro lado da linha, pedia mais um momento. Mais de 30 minutos se passaram e... nada. Desliguei, pô!
Terceira tentativa (escolhi um hospital do convênio e liguei para pedir ajuda):
- Aqui nós só operamos e, mesmo assim, não operamos cabeça. Esse tipo de cirurgia passou para o hospital ...(tal e tal)... do plano. Mas já vou avisando: eles só vão atender a senhora lá se for para operar!
- Eu entendo, moça! Sei que tenho que passar por um neurologista clínico. Aliás, espero não ter que operar!
- Mas a senhora será muito bem-vinda se precisar, viu?! Posso lhe assegurar!
- Obrigada, mas uma operação não está nos meus planos.
- Está sim, o plano cobre!
- Você não entendeu... (Contei até 10) Eu disse que espero não ter que operar!
- Está sim, o plano cobre!
- Você não entendeu... (Contei até 10) Eu disse que espero não ter que operar!
- Ah, é... E eu não sei como ajudar a senhora a achar um neurologista clínico...
Quarta tentativa (um consultório arrolado no “site” da empresa de saúde):
- A senhora já tem todos os exames em mãos?
- Não, pois primeiro preciso passar pelo neurologista clínico. Acredito que, ao ouvir minha história, ele me dirá quais exames devo fazer.
- Pois é, mas o doutor é ocupado e não tem tempo para escutar historinhas dos pacientes. Tudo é rápido, é cronometrado. Por isso é que ele só atende se o paciente trouxer os exames!
Quinta tentativa (outro consultório arrolado no “site” da empresa de saúde):
- Claro, o doutor atende! A consulta custa ...(tantos)... reais.
- Desculpe-me, mas acho que não me fiz entender ou você não ouviu direito. Eu tenho um plano de saúde, é o plano ...(tal)...
- Mas ele não atende mais esse plano!
- E o que faz o nome dele no “site” do plano?
- Acho que esqueceram de atualizar.
- Bom, infelizmente não poderei me consultar com ele. É uma pena! Li o próprio “site” do médico e tive a melhor impressão dele, inclusive sobre a abordagem holística no tratamento dos pacientes.
- Ah, mas são só ...(tantos)... reais!
- Não tenho!
- Faz uma forcinha! É só ter boa vontade!
- Boa vontade, filha? Pois dia desses, para ir a um médico, um que me receitou um paliativo, precisei virar a carteira do meu marido pelo avesso, para encontrar 30 centavos e inteirar o dinheiro para duas passagens de metrô, ida e volta.
- Ah, carteira de marido é tudo de bom!
- Não tanto. A do meu tinha 10 reais e umas moedinhas.
- E a senhora conseguiu os 30 centavos?
- Felizmente.
- Quanto custa o metrô?
- R$ 2,65, valor unitário. Duas passagens, R$ 5,30.
- Então a senhora tinha 5 reais, pelo menos!
- Claro!
- E qual o remédio paliativo que indicaram para a senhora?
- Desculpe, moça, mas o Dr. ...(tal)... vai me atender ou não?
- Como eu já disse, ele não atende o seu plano. E plano nenhum. Ele é um médico muito conceituado e não precisa de pacientes de planos de saúde.
Bom, leitor, meu impasse sobre achar “o neurologista bom e humano que aceite o meu plano de saúde” continua... E espero que não se transforme numa dor de cabeça! Triste com toda a situação, peço licença para inserir e compartilhar com todos um texto magnífico que recebi de uma amiga, a Padinha. Não tenham preguiça! Leiam o texto, tão verdadeiro e sensível, de autoria de uma médica, e que está rolando na Internet desde 2007 ou 2008. Acompanhem e comentem, por favor!
ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR? (*)
Hoje acordei sentindo uma dorzinha. Aquela dor sem explicação, e uma palpitação.
Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo... O Meu Doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo, mas a da minha alma. Que me transmitia paz e calma!
Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta:
- Qual o seu plano?
- O meu plano?
Ah, o meu plano é viver mais e feliz! É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora! Mas a resposta teria que ser outra.
O “meu plano de saúde”...
Apresentei o documento do dito-cujo, já meio suado,
tanto quanto o meu bolso, e aguardei.
Entrei e o olhei, me surpreendi... Rosto trancado, triste e cansado. Será que ele estava adoentado? Quem sabe, talvez, gripado. Não tinha uma expressão alegre,
provavelmente devido à febre.
Dei um sorriso meio de lado e um bom dia. Olhei o ambiente bem decorado. Sobre a mesa, à sua frente, um computador, e no seu semblante, a sua dor.
O que fizeram com o Doutor?
O que fizeram com o Doutor?
Quando ouvi a sua voz, de repente:
- O que a senhora sente?
Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo,
pois parecia mais doente do que eu, a paciente...
- Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação.
Esperei a sua reação. Pensei: vai me examinar,
escutar a minha voz, auscultar o meu coração...
Para minha surpresa, apenas me entregou uma requisição e disse:
- Peça autorização desses exames para conseguir a realização...
Quando li quase morri. “Tomografia Computadorizada”, “Ressonância Magnética” e “Cintilografia”! Ai, meu Deus! Que agonia! Eu só conhecia uma tal de "abreugrafia". Só sabia o que era "ressonar" (dormir), de "magnético" eu conhecia um olhar... E "cintilar", só o das estrelas! Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu? Iria morrer assim ao léu?
Naquele instante timidamente pensei em falar: Terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio? Que fazer com essa sensação de vazio? Observe, Doutor, o tal "Pai da Medicina", o grego Hipócrates, acreditava que
"A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR".
Olhe para mim... É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado! Médico não é sacerdote. Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano.
Mas, por favor, me olhe, ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine! Estou sentindo falta de dizer até "aquele 33"! Não me abandone assim de uma vez! Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança! Alimente a minha mente e o meu coração, me dê, ao menos, uma explicação!
O senhor não se informou se eu ando descalça... ando sim! Gosto de pisar na areia e seguir em frente, deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida! Estarei errada? Ou estarei com o verme do amarelão? Haverá umas gotinhas de solução? Será que já existe vacina contra o tédio? Ou não terá remédio?
Que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor!
Cadê o Scoot, aquele da Emulsão? Que tinha um gosto horrível mas me deixava forte que nem um "Sansão"! E o Elixir? Paregórico e categórico, e o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras?
Será que pensei asneiras?
Ah! meu querido e adoentado Doutor, sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo... Do seu pensar...
O seu sorriso que aliviava a minha dor, que me dava forças para lutar contra a doença, e que estimulava a minha saúde e a minha crença...
Sairei daqui para um ataúde?
Preciso viver e ter saúde! Por favor, me ajude! Oh! meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim...
Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador, e o olhar vago e cansado do Doutor!
Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza.
Por favor, tragam de volta o meu Doutor!
Estamos todos doentes e sentindo dor...
Ouço até os seus gemidos.
Peço, para o ser humano, uma receita de "calor",
e para o exercício da medicina uma prescrição de "amor"!
(*) Tatiana Bruscky, médica em Recife (PE), é a inspirada e sensível autora do texto "ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR?" Ela é tão-somente a autora do texto. Quanto às críticas logo no início da postagem, bem como a história das cinco tentativas frustradas para marcar uma consulta, sou eu, Monica Derito, a inteira responsável pelos relatos e pelos pontos de vista.