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25 novembro 2010

HUMANIZAÇÃO DA MEDICINA.URGENTE.





Na postagem passada – PRECISO GRITAR –, compartilhei com vocês, meus queridos leitores, a dor de cabeça estrondosa que me consumia intermitentemente desde 29 de outubro. Contei, também, que um médico me receitara um medicamento controlado, no qual eu colocava toda a minha fé. E quando consegui a “grana” para ir à drogaria, comprá-lo e tomá-lo, ufa! que alívio!!! Foi incrível a sensação de não mais ter a dor! De tanta alegria, cheguei a duvidar e, para dissipar quaisquer dúvidas, dei murros na cabeça, chacoalhei-a vigorosamente, e nada. Nenhuma dor. Ebaaaaaaaaaaaaa! Livre, livre, livre!

Porém, o médico que prescreveu a maravilha deixou claro:

- Trata-se de um paliativo. Você deve procurar um neurologista para investigar as causas e tratá-las. Ademais, você tem casos de tumores cerebrais na sua família...

Pois agora não sei o que é pior: a dor de cabeça, o fantasma do tumor cerebral, ou achar um neurologista, principalmente um que seja, acima de tudo, humano.


Primeira tentativa (unidades clínicas do plano de saúde):

Minha busca começou com o plano de saúde, que mantém três clínicas com várias especialidades na cidade de São Paulo. Ao contatar aquela perto do meu endereço residencial, ouvi o seguinte:

- Esta especialidade não existe mais aqui, nem nas duas outras unidades. Na verdade, há uma com a especialidade, mas só atende pessoas que operaram a coluna. Ah, mas o médico que atendia aqui deixou o telefone do novo consultório dele. Interessa?


Segunda tentativa (telefone que me foi oferecido):

A secretária que atendeu perguntou:

- É particular ou convênio?
- Convênio.
- Qual o plano de saúde?

Falei qual era e ela disse que o médico atendia tal plano. Pediu-me que esperasse um pouco, pois ia ver a agenda do profissional. E me deixou pendurada no telefone. Às vezes, voltava, e, ao identificar que era eu do outro lado da linha, pedia mais um momento. Mais de 30 minutos se passaram e... nada. Desliguei, pô!


Terceira tentativa (escolhi um hospital do convênio e liguei para pedir ajuda):

- Aqui nós só operamos e, mesmo assim, não operamos cabeça. Esse tipo de cirurgia passou para o hospital ...(tal e tal)... do plano. Mas já vou avisando: eles só vão atender a senhora lá se for para operar!
- Eu entendo, moça! Sei que tenho que passar por um neurologista clínico. Aliás, espero não ter que operar!
- Mas a senhora será muito bem-vinda se precisar, viu?! Posso lhe assegurar!
- Obrigada, mas uma operação não está nos meus planos.
- Está sim, o plano cobre!
- Você não entendeu... (Contei até 10) Eu disse que espero não ter que operar!
- Ah, é... E eu não sei como ajudar a senhora a achar um neurologista clínico...


Quarta tentativa (um consultório arrolado no “site” da empresa de saúde):

- A senhora já tem todos os exames em mãos?
- Não, pois primeiro preciso passar pelo neurologista clínico. Acredito que, ao ouvir minha história, ele me dirá quais exames devo fazer.
- Pois é, mas o doutor é ocupado e não tem tempo para escutar historinhas dos pacientes. Tudo é rápido, é cronometrado. Por isso é que ele só atende se o paciente trouxer os exames!


Quinta tentativa (outro consultório arrolado no “site” da empresa de saúde):

- Claro, o doutor atende! A consulta custa ...(tantos)... reais.
- Desculpe-me, mas acho que não me fiz entender ou você não ouviu direito. Eu tenho um plano de saúde, é o plano ...(tal)...
- Mas ele não atende mais esse plano!
- E o que faz o nome dele no “site” do plano?
- Acho que esqueceram de atualizar.
- Bom, infelizmente não poderei me consultar com ele. É uma pena! Li o próprio “site” do médico e tive a melhor impressão dele, inclusive sobre a abordagem holística no tratamento dos pacientes.
- Ah, mas são só ...(tantos)... reais!
- Não tenho!
- Faz uma forcinha! É só ter boa vontade!
- Boa vontade, filha? Pois dia desses, para ir a um médico, um que me receitou um paliativo, precisei virar a carteira do meu marido pelo avesso, para encontrar 30 centavos e inteirar o dinheiro para duas passagens de metrô, ida e volta.
- Ah, carteira de marido é tudo de bom!
- Não tanto. A do meu tinha 10 reais e umas moedinhas.
- E a senhora conseguiu os 30 centavos?
- Felizmente.
- Quanto custa o metrô?
- R$ 2,65, valor unitário. Duas passagens, R$ 5,30.
- Então a senhora tinha 5 reais, pelo menos!
- Claro!
- E qual o remédio paliativo que indicaram para a senhora?
- Desculpe, moça, mas o Dr. ...(tal)... vai me atender ou não?
- Como eu já disse, ele não atende o seu plano. E plano nenhum. Ele é um médico muito conceituado e não precisa de pacientes de planos de saúde.



Bom, leitor, meu impasse sobre achar “o neurologista bom e humano que aceite o meu plano de saúde” continua... E espero que não se transforme numa dor de cabeça! Triste com toda a situação, peço licença para inserir e compartilhar com todos um texto magnífico que recebi de uma amiga, a Padinha. Não tenham preguiça! Leiam o texto, tão verdadeiro e sensível, de autoria de uma médica, e que está rolando na Internet desde 2007 ou 2008. Acompanhem e comentem, por favor!



ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR? (*)

Hoje acordei sentindo uma dorzinha. Aquela dor sem explicação, e uma palpitação.

Resolvi procurar um doutor, e fui divagando pelo caminho...

Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo... O Meu Doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo, mas a da minha alma. Que me transmitia paz e calma!

Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta:

- Qual o seu plano?

- O meu plano?

Ah, o meu plano é viver mais e feliz! É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora! Mas a resposta teria que ser outra.
O “meu plano de saúde”...

Apresentei o documento do dito-cujo, já meio suado,
tanto quanto o meu bolso, e aguardei.

Entrei e o olhei, me surpreendi... Rosto trancado, triste e cansado. Será que ele estava adoentado? Quem sabe, talvez, gripado. Não tinha uma expressão alegre,
provavelmente devido à febre.

Dei um sorriso meio de lado e um bom dia. Olhei o ambiente bem decorado. Sobre a mesa, à sua frente, um computador, e no seu semblante, a sua dor.
O que fizeram com o Doutor?

Quando ouvi a sua voz, de repente:

- O que a senhora sente?

Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo,
pois parecia mais doente do que eu, a paciente...

- Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação.

Esperei a sua reação. Pensei: vai me examinar,
escutar a minha voz, auscultar o meu coração...

Para minha surpresa, apenas me entregou uma requisição e disse:

- Peça autorização desses exames para conseguir a realização...

Quando li quase morri. “Tomografia Computadorizada”, “Ressonância Magnética” e “Cintilografia”! Ai, meu Deus! Que agonia! Eu só conhecia uma tal de "abreugrafia". Só sabia o que era "ressonar" (dormir), de "magnético" eu conhecia um olhar... E "cintilar", só o das estrelas! Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu? Iria morrer assim ao léu?

Naquele instante timidamente pensei em falar: Terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio? Que fazer com essa sensação de vazio? Observe, Doutor, o tal "Pai da Medicina", o grego Hipócrates, acreditava que
"A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR".
Olhe para mim... É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado! Médico não é sacerdote. Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano.

Mas, por favor, me olhe, ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine! Estou sentindo falta de dizer até "aquele 33"! Não me abandone assim de uma vez! Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança! Alimente a minha mente e o meu coração, me dê, ao menos, uma explicação!

O senhor não se informou se eu ando descalça... ando sim! Gosto de pisar na areia e seguir em frente, deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida! Estarei errada? Ou estarei com o verme do amarelão? Haverá umas gotinhas de solução? Será que já existe vacina contra o tédio? Ou não terá remédio?

Que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor!

Cadê o Scoot, aquele da Emulsão? Que tinha um gosto horrível mas me deixava forte que nem um "Sansão"! E o Elixir? Paregórico e categórico, e o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras?

Será que pensei asneiras?

Ah! meu querido e adoentado Doutor, sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo... Do seu pensar...

O seu sorriso que aliviava a minha dor, que me dava forças para lutar contra a doença, e que estimulava a minha saúde e a minha crença...

Sairei daqui para um ataúde?

Preciso viver e ter saúde! Por favor, me ajude! Oh! meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim...

Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador, e o olhar vago e cansado do Doutor!

Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza.

Por favor, tragam de volta o meu Doutor!

Estamos todos doentes e sentindo dor...

Ouço até os seus gemidos.

Peço, para o ser humano, uma receita de "calor",
e para o exercício da medicina uma prescrição de "amor"!

ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR?


(*) Tatiana Bruscky, médica em Recife (PE), é a inspirada e sensível autora do texto "ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR?" Ela é tão-somente a autora do texto. Quanto às críticas logo no início da postagem, bem como a história das cinco tentativas frustradas para marcar uma consulta, sou eu, Monica Derito, a inteira responsável pelos relatos e pelos pontos de vista.

20 novembro 2010

PRECISO GRITAR


Grito Nº 1: QUANDO A ARTE TEM VIDA PRÓPRIA E GRITA
Esta reprodução, cujo original está exposto na Galeria Nacional de Oslo, é a famosa tela do norueguês Edvard Munch (1863-1944), cujas obras, marcadamente expressionistas, abarcam temas como vida, morte, amor, melancolia, ansiedade e medo. "O Grito" (acima), concebido em 1893, mostra um céu que sangra e, em primeiro plano, um ser aterrorizado.

Além das mais variadas análises artísticas, o quadro possibilita análises psicológicas que vão desde as mais inocentes (uma pessoa que está com medo de alguma coisa) até as mais complexas, como distorção do ambiente, passando por uma despersonalização do ser, até uma experiência extracorpórea!

"O Grito" é uma tela que me incomoda e, ao mesmo tempo, atrai. É triste, aperta o coração, traz lágrimas aos olhos e um nó na garganta. Ah, mas não há como visitar Oslo e não vê-la! O mesmo acontece com a "Guernica", de Pablo Picasso. Antes em Nova York, pois o pintor não a desejava na Espanha do ditador Francisco Franco, agora está em Madri, mais precisamente no 2º andar (sala 206/1) do Museo Reina Sofía. Na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a cidade de Guernica foi bombardeada como uma demonstração da força de Franco. O sofrimento do povo, incluindo mulheres e crianças, o susto dos animais e o incêndio fora de controle estão primorosamente eternizados por Picasso na tela que leva o nome da cidade. Choro sempre que visito o Reina Sofía, e fico lá, horas a fio, observando "Guernica". E há, no Brasil e pelo mundo afora, tantas outras obras de arte que merecem ser vistas e sentidas.

No caso das telas aqui mencionadas, dá vontade de gritar na tentativa de rechaçar tanta opressão! Mas tal comportamento renderia um "convite" para que eu me retirasse dos museus... Aiiiiiiiiii...


Grito Nº 2: DINHEIRO CURTO
Antes que alguns ou vários leitores me tachem de esnobe, posto que deixo explícito que já visitei e revisitei museus no Brasil e no exterior, devo contar que isso aconteceu nos bons tempos... Tempos que só voltarão caso um milagre aconteça!!! Digo-lhes com toda a franqueza: graças a Deus, já fui e já tive muita coisa. Entretanto, a vida "desandou" e sofro hoje, como grande parte dos brasileiros, daquela doença crônica de nome "bolsite". Não confundam com "bursite", um certo processo inflamatório... E desculpem-me os que sofrem dela (bursite), mas a "bolsite", conforme o estágio em que se encontre a pessoa portadora do mal, pode ser bem pior! Aiiiiiiiiii...


Grito Nº 3: GARGANTA OITO OU OITENTA
Depois de minha penúltima postagem - uma homenagem ao inesquecível piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna -, senti vontade de dar vários gritos... Mas não os dei: estão ainda entalados na garganta. Aliás, será que os "sapos engolidos" e os gritos contidos propiciam os tantos problemas de garganta que há muito me perseguem?

Ah, nunca me esqueço da época em que trabalhava demais (70 horas dentro de sala de aula e outras tantas para preparar aulas e corrigir provas, trabalhos, estágios, etc) e que a Divina Providência* (talvez) me obrigou a parar... Minha garganta deu-se ao luxo de ter as três mais famosas "ites" ao mesmo tempo: amigdalite, faringite e laringite. Por quanto tempo o trio "causou"? Dois meses e meio com febre alta (39ºC-41ºC), muito pus, dificuldade para engolir, afonia completa, dores e mal-estar generalizados, dinheiro gasto com medicamentos (todos prescritos pelo médico) e nenhum alívio. Um dia, de repente, amanheci sem febre e estava curada! Lembranças amargas... Curada, quis gritar de alegria, mas achei por bem não fazê-lo... E tal grito está entalado até hoje. Aiiiiiiiiii...


Grito Nº 4: AI, MINHA DOR DE CABEÇA... GRRRRRRRR...
Quero gritar, sim, pela dor de cabeça que venho sentindo desde 29 de outubro!!! Por causa deste tempo maluco, a "sinusite" está atacada (Aliás, lembro-me de um doutor otorrinolaringologista, muito bem recomendado, que fumava na minha cara durante as consultas, ai!). Some-se à dita-cuja o fato de eu haver herdado a "enxaqueca" que assombra a maioria das mulheres da minha família por parte de mãe. Ai! Mas nesse último final de semana prolongado, a danada abrandou um pouco: no sábado 13, ao ir ao Centro Espírita que frequento, percebi que estava "quase" livre da dor após receber o "passe" (=transmissão de energia) e estudar e conversar sobre coisas lindas e saudáveis com os amigos que tenho lá. Porém, passados alguns dias, aquela intensidade voltou. Ai!!! Para amenizar a situação de dor intermitente, só mesmo lembrando o humor do meu saudoso paizinho. Quando percebia que eu e minha mãe estávamos com enxaqueca, ele brincava:

- O que vocês aprontaram, meninas? Por que amam tanto essa "incha-cueca"?

Ah, quantas saudades do meu pai e do seu senso de humor... Ok, pai, pois agora, desesperada, tive que ir ao médico. E vou iniciar um tratamento com uma substância nova para mim. Trata-se de um medicamento controlado, e, seguindo o conselho que o senhor me daria, estou colocando toda a minha fé nele.

Mas não posso negar. Muitas vezes tenho vontade de, na calada da noite, ou nos primeiros ruídos do amanhecer (geralmente ruídos de passarinhos), abrir a janela e gritar a plenos pulmões: "Aiiiiiiiiii..."


Grito Nº 5: VIOLÊNCIA URBANA
E por falar em final de semana prolongado, o que dizer da violência gratuita ocorrida em plena Avenida Paulista, no domingo 14, quando um bando de cinco jovens de classe média-alta, provavelmente voltando "daquelas festas", escolheu, a esmo, três pessoas para atacá-las? Era muito cedo, cerca de seis horas da manhã, e não fosse a intervenção dos porteiros de prédios próximos, e da chegada da Polícia, tudo teria sido pior. Os desajustados atacaram três jovens (um por vez) com socos, pontapés e até com lâmpadas fluorescentes! Sabemos que tais lâmpadas, quando quebradas, liberam um gás que emite radiação eletromagnética, algo nada saudável para contato com pele e olhos. Sim, olhos! O bando quebrou as lâmpadas na cabeça e rosto de suas vítimas! E estas, enquanto apanhavam, eram chamadas de homossexuais e recebiam uma chuva de palavrões e insultos os mais desairosos.

Onde estamos, minha gente? A questão aqui é séria! Consideremos:

(1) A opção sexual de cada ser humano é sua e de ninguém mais.

(2) O bando achou que suas vítimas eram homossexuais. O "achismo" aqui não é inocente, mas preconceituoso (homofobia) e, como todo preconceito, perigoso. Homossexuais ou não, as vítimas são seres humanos como todos nós: o respeito e o direito de ir e vir são vias de mão dupla!

(3) Há um provérbio polonês que diz: "Um homem só não vale nada". Concebido como um "slogan" de luta por liberdade e direitos humanos, algo como "uma andorinha só não faz verão", a frase concita as pessoas a se unirem quando em busca da realização de um ideal. No caso da Polônia, recordemos sua história recente quando, no século 20, foi invadida pelos nazistas e pelos soviéticos e, então, dividida. Muitas atrocidades foram cometidas e grande parte de sua população foi dizimada, principalmente os judeus. No caso do bando de "mauricinhos" na Avenida Paulista, e nos tantos casos de violência praticada por grupos, o provérbio adquire um sentido negativo. Afinal, se os tais rapazes não estivessem em bando, não cometeriam tais atos.

Resumo da ocorrência (segundo a mídia): com raríssimas exceções, os pais dos agressores e seus advogados contratados adotam um discurso que tenta transformar as vítimas em réus e os réus em vítimas, alegando que seus filhinhos só agiram assim porque estavam juntos. Os três moços que foram atacados estão cheios de hematomas e de faixas e curativos pelo corpo, principalmente na cabeça (região dos olhos, nariz e boca). E os cinco moços que os atacaram já estão em liberdade. É ou não é para gritar? Aiiiiiiiiii...


Grito Nº 6: VIOLÊNCIA NAS ESTRADAS
Meu marido e eu, como de praxe, não saímos de São Paulo nos chamados finais de semana prolongados. Se quando tínhamos carro já não nos aventurávamos a enfrentar estradas congestionadas, posto que grande parte da população "curte" tirar o carro da garagem e deixar a cidade nessas épocas, imaginem agora, sem carro... Ficar num tubo sobre rodas, o ônibus, em pleno congestionamento? Nem pensar! Affffffffff...

Porém, estou indignada com as 142 mortes nas estradas brasileiras nesse último feriadão (o da República). Desde a sexta-feira 12 até a segunda-feira 15, tal número praticamente se igualou ao dos vitimados pelo acidente do avião da Gol em setembro de 2006, ao sul do estado do Pará, já perto de Mato Grosso. O vôo 1907, com 154 pessoas a bordo, levou um "chega-pra-lá" de um Legacy, jatinho executivo pilotado por norte-americanos que "não teriam visto" o Boeing 737-800. Até hoje, alegam os pilotos do Legacy que teriam tentado contatos com a aeronave da Gol e com os controladores de vôo que atuavam na área. Todavia, penso eu (repito: penso eu), tentaram tal contato -- vamos acreditar que tentaram -- em cima da hora! Pergunto: o que estariam fazendo tais pilotos para não ver um Boeing? Devem ter levado um "baita" susto ao vê-lo quando já não havia tempo para desviar...

E assim procederam muitos motoristas nesse feriadão. Por diversos motivos -- álcool na cabeça, consumo de drogas, distração causada por conversas e música alta, uso de telefone celular, cigarro aceso ou por acender, impaciência para chegar logo, prepotência em se achar, cada um, o único na estrada --, não enxergaram o carro que estava na frente, a curva sinalizada, o barranco que se revelava, etc. E os acidentes ocorreram! Muitas vezes, os causadores nada sofreram, mas os motoristas e passageiros dos outros carros envolvidos sim. E isso é mais revoltante ainda!!! Tão revoltante quanto o fato de saber que o jatinho Legacy aterrissou em segurança, após colidir com o Boeing da Gol, e que o Boeing despencou da altura em que estava e que todos os seus ocupantes morreram. Sinto-me indignada e tenho uma vontade enorme de gritar: Aiiiiiiiiii...



(*) Observação: A expressão "Divina Providência" (Grito Nº 3, sobre a "garganta") é até repetitiva, pois a palavra "Providência", no contexto em que foi usada, significa por si só "a sabedoria com que Deus rege o Universo e tudo e todos que aqui estão".

17 novembro 2010

ESPORTES: ALEGRIAS E TRISTEZAS

É, decididamente o domingo 14 de novembro não foi dos melhores para o esporte -- pelo menos para mim!

VÔLEI ___ Para começar, as meninas do vôlei perderam a final para a Rússia. A partida foi decidida no "tie-break" e, no pódio, com Rússia em primeiro lugar, Brasil em segundo, e Japão em terceiro, foi triste ver as nossas meninas chorando copiosamente. Excelentes jogadoras, foram vencidas pelo nervosismo. Sei muito bem o que é isso e acredito que muitos de vocês, queridos leitores, também conheçam tal sentimento, infelizmente!


FÓRMULA 1 ___ Na Fórmula 1, o piloto que tinha mais chances matemáticas ao título, o espanhol bicampeão Fernando Alonso (Ferrari), começou a perder a alegria logo na largada, quando, para evitar uma colisão com Button (McLaren), abriu mão de sua posição (a 3ª no grid). Segundos depois, Rosberg e Schumacher (ambos da Mercedes) se tocaram de leve; Rosberg seguiu, mas Schumacher ficou com o carro na contramão, e, antes mesmo que pudesse desvirar a máquina, Liuzzi (da Force India) literalmente caiu com o carro sobre ele. Graças a Deus, os dois nada sofreram. O "safety car" entrou na pista para a retirada das "latarias acidentadas", e a distância entre os pilotos remanescentes foi zerada. Ficaram todos perfilados. Finalmente, a Ferrari ainda cometeu um erro de estratégia e o espanhol terminou em 7º lugar, posição que deu o título de campeão ao terceiro mais provável, o jovem alemão Sebastian Vettel, da Red Bull (foto). Alonso, no quadro geral, ficou em 2º lugar no Campeonato de 2010, uma punição cabível para a Ferrari, que, ao longo do campeonato, além dos muitos erros cometidos, ainda foi injusta com Felipe Massa, que venceria uma corrida caso não tivesse recebido a ordem para deixar o colega Alonso passar.

Resumo da temporada:

(1) Os brasileiros Felipe Massa, Rubens Barrichello, Bruno Senna e Lucas Di Grassi não brilharam.

(2) As escuderias novas -- Hispania, Lotus e Virgin -- só atrapalharam: sem dinheiro, seus carros constituíram uma categoria à parte, a dos "carrinhos de brinquedo".

(3) O australiano Mark Webber, já veterano e companheiro do campeão Vettel na RBR, foi o mais constante e o que mais rendeu no campeonato, merecendo, inclusive, a torcida de muita gente das outras escuderias; tanta expectativa, todavia, pesou em seus ombros... e o nervosismo o derrotou.

(4) A austríaca Red Bull Racing -- RBR --, que não fez o sujo jogo de equipe, tão comum na F-1, ganha, assim, o meu respeito como a mais ética e limpa.

(5) Finalmente, lamento que Fernando Alonso não tenha sido tricampeão desta vez. Meu marido implica comigo, repetindo aquilo que a imprensa sempre fala: que Alonso é antipático e mau perdedor. Pode até ser, mas não há como negar que ele é um grande piloto, ainda que sem o carisma do nosso saudoso Ayrton Senna. No entanto, não posso negar que um grande pedaço do meu coração é espanhol por afinidade. Talvez isso se deva ao fato de eu haver estudado lá, de ter muitos amigos entre seu povo, de conhecer bem o país e seus costumes, e, principalmente, por ser a Espanha o país que mais me tratou bem em toda a minha vida. Infelizmente, não recebo tanto carinho assim no meu próprio país, o Brasil...


FUTEBOL ___ Finalmente, para terminar o domingo, o Palmeiras, time de coração do meu marido, perdeu para o Atlético Goianiense por 3 a 0. Oh, tristeza... Particularmente, não tenho favoritos no futebol. Torço apenas para a Seleção Brasileira, que aliás, nos últimos anos, anda mal das pernas!!! Há muitos jogadores "usando salto alto", infelizmente... Mesmo com a conquista do tetra (Estados Unidos, 1994) e do penta (Japão-Coréia do Sul, 2002), a última vez em que vi a Seleção Brasileira jogar por amor à camisa e ao país foi quando da conquista do tricampeonato (México, 1970).

Mas voltemos ao Palmeiras... Meu marido, graças a Deus, não ficou chateado com a derrota neste domingo 14. Ele entende de futebol e sabe explicar o motivo para não se aborrecer com tal derrota. Mas eu, que o amo muito, torço pelo "Verdão" por causa dele. Coisa que o "logos" não entende muito; mas algo que só o "cardio" sabe explicar.

12 novembro 2010

O BRASILEIRO. O HERÓI. O CAMPEÃO.


Em minha postagem anterior (“Ele confiou em mim”), iniciei mencionando o fato de que teríamos um final de semana de Fórmula 1 aqui em São Paulo, no autódromo de Interlagos. E depois parti para outro tema que, em verdade, era, é e sempre será mais importante do que a minha amada F-1.

Pois hoje também começo com automobilismo, mas vou focar um homem em especial. Um homem que mudou a F-1: Ayrton Senna.

Sabe aquela sensação de algo se quebrar dentro de você mesmo? Sabe aquele vácuo que fica após tal quebra? E a tristeza de saber que tal vácuo nunca mais será preenchido?

Sinto-me assim muitas vezes, nas mais diversas situações, principalmente no que concerne pessoas que partem da vida e/ou pessoas que partem da minha vida e/ou pessoas que partem a minha vida... Perceba a diferença, caro leitor!

Quanto às pessoas que partem da vida, foi assim que me senti há dezesseis anos, mais precisamente no dia 1º de maio de 1994, um domingo. Acomodada no sofá de meu apErtamento, enquanto meu marido jogava futebol com os amigos não muito longe dali, vi o grande piloto Ayrton Senna morrer diante de meus olhos. Coração e alma caíram em interminável vácuo...

Paulista nascido em 21 de março de 1960, Ayrton Senna da Silva correu na categoria mais importante, cara e “badalada” do automobilismo mundial durante dez anos, passando pelas escuderias Toleman, Lotus, McLaren e Williams. Foi tricampeão mundial (1988, 1990 e 1991) e era uma figura carismática, com sangue quente mas um coração dos mais generosos. A nós, (tel)espectadores, dava mais orgulho de nossa nacionalidade cada vez que aquele arrojado rapaz, de caráter firme, ferrenho cobrador da própria perfeição, mas dono de um olhar meigo e pacífico, cruzava a linha de chegada em primeiro lugar e desfilava em volta extra com a bandeira brasileira, até então escondidinha consigo, no cockpit de sua máquina.

Como todos os vencedores na vida, despertou inveja e inimizades no meio, mas nunca agiu de forma a “puxar o tapete” dos outros competidores e dos chefões da F-1. Sua busca por excelência nas pistas começava nos bastidores, onde atuava como analista e crítico rigoroso de regras e procedimentos, e onde clamava pela volta da antiga Comissão de Segurança dos Pilotos. Seus conselhos e críticas encontravam apoio de muitos, mas, igualmente, a provocação e o escárnio de muitos outros. Ayrton respondia da melhor forma possível, ou seja, com mais competência e com desconcertantes manobras e belas vitórias, apresentando-se no pódio com muita vibração e com sua inseparável bandeira. Era amado e admirado no Brasil e em todos os países do mundo por onde passava o "circo" da Fórmula 1 e/ou nos quais as corridas eram transmitidas por rádio e, é claro, pela mídia televisiva.

Na virada para 1994, e chateado com o mau desempenho que sua McLaren vinha tendo após a conquista do tricampeonato (1991), acabou assinando com a Williams – esta, na época, desenvolvia carros campeões para pilotos igualmente campeões, ou seja, para pilotos que soubessem verdadeiramente dirigi-los!

O que ninguém esperava, muito menos o próprio Senna, é que naquele mesmo ano a Williams fosse enfrentar uma série de dificuldades na concepção de seus carros. E em sua terceira corrida da temporada, no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, na Itália, perdeu o controle do carro, bateu violentamente num muro e morreu instantaneamente.

O caso foi investigado... Porém, como tudo que envolve muito dinheiro (e aqui a Fórmula 1 não é exceção), chegou-se a um veredicto depois de muito tempo... Mas as controvérsias persistem.

Senna teria abusado da confiança e batido o carro? Não! Não mesmo, inclusive porque, no dia anterior, durante os treinos, o brasileiro Rubens Barrichello se acidentara e o austríaco Roland Ratzenberger morrera. Ayrton fez questão de visitar Barrichello no hospital e de vistoriar o lugar do acidente fatal de Ratzenberger. Tal procedimento cauteloso por parte do piloto, aliás, gerou grande polêmica entre os chefões e os patrocinadores!

Ayrton sabia que algo estava errado, e sua preocupação ficou evidenciada pouco tempo antes do início da corrida. Os canais de televisão que faziam a cobertura do evento mostraram o piloto em seu carro, com o olhar distante, como que antevendo algo nefasto. Este semblante distante e triste está até hoje gravado em minha mente!

Porém, mais triste ainda foi saber que a Williams fizera um reparo negligente, ao soldar “porcamente” a coluna (ou barra) de direção do carro. Esta, já quebrada, deveria ter sido substituída. Entretanto, optou a equipe por uma solda, justamente em ambiente onde o calor impera – dentro e fora do carro.


Ao bater forte na tal de Tamburello, uma curva que somente depois desta fatalidade foi remodelada, observei, na TV, a cabeça de Ayrton pender para um dos lados e ouvi um afoito locutor exclamar:

- Ah, ele mexeu a cabeça! Que bom! Foi uma batida forte, mas apenas um susto!

Um susto?

O “safety car” (carro de segurança) foi acionado e os demais “bólidos” seguiram-no, como de praxe, para que houvesse o socorro, a retirada do carro e a limpeza de possíveis pedaços que tivessem ficado perigosamente no caminho.

Os primeiros fiscais de pista a chegarem ao local perceberam que não podiam mexer nele. Teriam que esperar os médicos, que logo chegaram, tendo à frente o então chefe da equipe médica da Fórmula 1, o renomado neurocirurgião Prof. Dr. Sidney Watkins. Este, ao ver as condições do piloto, exigiu sua imediata remoção para o equipadíssimo Hospital Maggiore, na cidade de Bolonha. O médico notara a gravidade do acidente, que literalmente esmagara e perfurara o cérebro do piloto.

Com Senna removido de helicóptero, o “safety car” recolheu e a corrida prosseguiu.

Para mim, e para tantas outras pessoas, leigas e entendidas, o piloto morreu na pista. Contudo, se o fato fosse declarado, a corrida teria que ser cancelada. Naquela época, pelo menos, havia, na Itália, uma lei que suspendia qualquer competição esportiva caso um atleta morresse nela. Somente após investigações e conclusões, a competição poderia ser retomada (ou não).

Pois se havia tal lei (não sei se ainda há), fica uma pergunta de fácil resposta: Por que a morte do piloto não foi declarada?

Porque, com a competição cancelada até segunda ordem, o que demandaria tempo, haveria grandes perdas financeiras por parte das escuderias e, principalmente, dos patrocinadores, bem como de todos aqueles que “mamavam” na F-1, aproveitando o evento em cada cidade para majorar preços.

Aliás, neste mundo globalizado e falsamente mais humano, tal situação não só perdura, mas piora a passos largos, na F-1 e praticamente em todos os segmentos da atividade humana, incluídos aí, infelizmente, o abuso de poder de governos, a prepotência das grandes corporações, a burocracia da saúde pública e das empresas de saúde, a mediocridade da educação (que não é mais processo, mas “produto”), os atravessadores infiltrados na agricultura, a criação e o aumento de impostos cujo destino não é o prometido, a especulação de dinheiro, a guerra cambial, etc. E tudo isso regado a muitas regras complexas, chefias burras e salários desrespeitosos para a maioria da população mundial. Como diz a nossa roqueira maior, a Rita Lee, é “pouco milho pra muito bico / muita caca pra pouco pinico”, na canção “Ti Ti Ti”, composição que assina com Roberto de Carvalho.

É, eu até que gostaria de dar alguns exemplos nas áreas da saúde e da educação, mas vou ficar por aqui para não deixar que o “logos” fale mais alto. Já chega a tristeza que tais desatinos causam ao meu “cardio”!


Concluindo, por ora, sobre Ayrton Senna, gostaria de citar algumas palavras do médico Sidney Watkins, hoje aposentado. Depois de oficialmente declarada a morte do piloto no Hospital Maggiore, em Bolonha, ele contou como estava o piloto ainda na pista de Ímola:

- Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras e estava claro, por suas pupilas, que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, eu senti sua alma partir nesse momento.

Grande doutor! Você enxergou Ayrton não apenas como um corpo dependente de um coração e comandado por um cérebro. Você, doutor, apesar de seu agnosticismo, viu o homem Ayrton como possuidor de uma alma. E a alma partia naquele momento... Partia tranquila, apesar da rapidez dos fatos. O piloto tinha uma forte espiritualidade. Tinha uma ligação muito particular com Deus e sentia que, ao pilotar, era muito ajudado e que, muitas vezes, entrava em outra dimensão.

Não tivesse encontrado a morte na tal curva de nome Tamburello, Ayrton Senna da Silva, brasileiro e “cidadão do mundo”, desfilaria naquele dia, caso vencesse a prova, com a bandeira da Áustria, sua homenagem particular ao colega que falecera no dia anterior, Roland Ratzenberger.



 
Em tempo:

(1) Neste fim de semana, termina o Campeonato de Pilotos de 2010, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. No sábado 13, a definição de posição no grid de largada. E no domingo 14, a corrida. A transmissão para a TV brasileira será às 11h, nos dois dias. E a final será emocionante devido à indefinição constante que marcou o campeonato deste ano: Alonso e Webber têm mais chances. Mas Vettel e Hamilton não podem ser descartados. Ok, não há o mesmo encanto da época de Ayrton Senna, mas, para fãs de velocidade como eu, ainda há muita adrenalina!!!

(2) Estreia hoje, sexta-feira 12, nos cinemas brasileiros, o filme-documentário "SENNA. O BRASILEIRO. O HERÓI. O CAMPEÃO". Imperdível!!!

06 novembro 2010

ELE CONFIOU EM MIM

Hoje é um dia para que eu reitere minha eterna gratidão a alguém muito especial. Ainda que os motores da minha amada "Fórmula 1" ronquem em Interlagos, ocasião em que os pilotos fazem os treinos oficiais em busca do melhor posicionamento no "grid" de largada, passarei o dia em intensas e sinceras vibrações por uma pessoa admirável.

Hoje, 6 de novembro, aniversaria o meu mentor intelectual, grande amigo, mestre incomparável e único patrão que tive em minha vida, o Prof. Dr. Julio Morejón.

Quisera eu poder abraçá-lo e com ele relembrar os poemas que tantas vezes recitamos juntos. Poemas sobre a nossa dourada Espanha, a natureza, os rios, as pontes, e até alguns de Santa Teresa de Jesús (1515-1582), religiosa, mística e escritora espanhola que reformou a Igreja Católica em sua época. Ainda em vida, Teresa produziu milagres que foram devidamente registrados e comprovados e, assim, foi facilmente canonizada em 1622. Depois, já no século 20, precisamente em 27 de setembro de 1970, recebeu o título de "Doutora da Igreja", outorgado pelo papa Paulo VI. No Brasil, é mais conhecida como Teresa d'Ávila.

O Prof. Morejón e eu gostávamos muito de conversar sobre todas as manifestações de cultura. Todavia, nossos maiores júbilos intelectuais eram, em igual importância: (1) recitarmos, juntos, poemas que considerávamos de beleza ímpar; e (2) escolhermos um libreto de uma bela ópera e ler alguns trechos. Neste caso, cada um de nós tomava para si um dos personagens principais para leitura, e, posteriormente, apreciávamos tal ópera em DVD, em sua totalidade.

Este homem, licenciado pela Universidade de Salamanca, veio para o Brasil por causa de uma paixão: conhecera, na Espanha, uma bela jovem brasileira filha de espanhóis que aqui viviam. Lá se casaram e vieram para este lado do oceano - ela voltando para casa e ele na condição de imigrante.

Aqui ele prosseguiu estudos avançados na Universidade de São Paulo (USP) e foi construindo uma honesta, sólida e respeitada carreira acadêmica. Com a amada esposa, constituiu uma linda família e, mais tarde, e com muito esforço, fundou sua própria faculdade.

Hoje, repito, o Prof. Morejón aniversaria. Mas não posso cumprimentá-lo... Desde maio de 2004, meu amigo e mestre encontra-se no chamado "estado comatoso". Recebe todos os cuidados da família querida e de profissionais de saúde gabaritados e amorosos. Mas não acorda! Acredito que sua alma esteja humildemente cumprindo o seu tempo aqui na Terra e que, quando enfim o Pai Maior o chamar, meu Professor desencarnará em meio a muita luz, paz e entendimento.

Portanto, meu presente a este homem admirável, no dia de hoje, é o de muita oração e, nela, o meu mais profundo agradecimento. Este homem sempre acreditou no meu potencial, investiu em mim, nunca me ignorou, e sempre soube que podia contar comigo (como realmente contou em diversas ocasiões). Para mim, ele foi e é pai, amigo, mentor intelectual, exemplo de vida e símbolo de coragem.

Professor, vamos recitar nossos versos favoritos de Teresa de Jesús? Vamos? Eu ainda tenho o mesmo sotaque que o senhor, o sotaque da região de "Castilla y León" (em português, Castela e Leão):

Nada te turbe,
nada te espante.
Todo se pasa.
Dios no se muda.
La paciencia
todo lo alcanza.
Quien a Dios tiene,
nada le falta.
Sólo Dios basta.


Tradução ao português:

NADA TE PERTURBE,
NADA TE ASSUSTE,
TUDO PASSA.
DEUS, PORÉM, NÃO MUDA.
COM A PACIÊNCIA
TUDO SE ALCANÇA.
QUEM A DEUS POSSUI,
NADA LHE FALTA.
SÓ DEUS BASTA.

Paz e luz, Meu Professor!


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Leitores queridos, gostaria de solicitar um pouco mais de sua atenção para algumas notas de interesse:

1ª) Se um dia puderem visitar a Espanha, não fiquem apenas nas cidades pertencentes ao que apelido de "círculo vicioso do turista": Madri, Sevilha e Barcelona. Procurem outras cidades também! As menos turísticas são aquelas que mais revelam o verdadeiro espírito espanhol.

2ª) Seguindo o conselho acima, coloco-me à disposição para dicas. Uma delas está ligada a esta postagem. Trata-se de Alba de Tormes, onde faleceu Teresa de Jesús. Lá, na igreja anexa ao Convento das Carmelitas Descalças, há muita história verdadeira e coisas para serem apreciadas por olhos ávidos por cultura e conhecimento. E há, também, uma urna de prata com os restos mortais de Teresa e, num altar especial, as relíquias: o braço esquerdo e o coração da santa, mumificados.

3ª) Para quem acredita em reencarnação: O espírito que animou Teresa animara, na época de Jesus, Maria Madalena. E Teresa também foi incompreendida, pois, além de ser possuidora de extraordinária mediunidade (algo não aceito pela Igreja de Roma), "não tinha papas na língua" e, assim, falava francamente sobre tudo o que pensava, inclusive sobre o que julgava estar errado na Igreja como um todo. Ela tinha "o pavio curto" e era incansável. Desnecessário dizer que, enquanto amada por muitos, era odiada e criticada pelos que detinham forte poder econômico, religioso e político em sua época: os membros do Clero!

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Na foto, Prof. Morejón e eu (agosto de 2003). A meu convite, palestrou, em abril daquele ano, aos alunos do curso de Letras, que eu coordenava. Foram duas palestras, ou melhor, duas aulas, para os alunos do matutino, posteriormente repetidas para os alunos do noturno, e perfazendo, assim, quatro aulas. Os temas: "Dom Quixote" (obra de Miguel de Cervantes) e "A Poesia de Pablo Neruda". Meus alunos, tanto os de espanhol como os de inglês, ficaram com os olhos marejados ao se sentirem naturalmente abarcados pelas palavras, didática e emoção do nosso Professor. Tamanha foi a repercussão desses momentos, que pouco depois, em agosto, os coordenadores dos cursos de Direito e Turismo pediram ao Professor, por meu intermédio, uma aula sobre o "Quixote" para seus alunos. Esta aconteceu e foi igualmente inesquecível. O que não podíamos imaginar é que esta também seria a última aula do mestre. Poucos dias depois, ele ficou muito doente e teve que se afastar para sempre do que mais gostava de fazer: ser professor!