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06 novembro 2010

ELE CONFIOU EM MIM

Hoje é um dia para que eu reitere minha eterna gratidão a alguém muito especial. Ainda que os motores da minha amada "Fórmula 1" ronquem em Interlagos, ocasião em que os pilotos fazem os treinos oficiais em busca do melhor posicionamento no "grid" de largada, passarei o dia em intensas e sinceras vibrações por uma pessoa admirável.

Hoje, 6 de novembro, aniversaria o meu mentor intelectual, grande amigo, mestre incomparável e único patrão que tive em minha vida, o Prof. Dr. Julio Morejón.

Quisera eu poder abraçá-lo e com ele relembrar os poemas que tantas vezes recitamos juntos. Poemas sobre a nossa dourada Espanha, a natureza, os rios, as pontes, e até alguns de Santa Teresa de Jesús (1515-1582), religiosa, mística e escritora espanhola que reformou a Igreja Católica em sua época. Ainda em vida, Teresa produziu milagres que foram devidamente registrados e comprovados e, assim, foi facilmente canonizada em 1622. Depois, já no século 20, precisamente em 27 de setembro de 1970, recebeu o título de "Doutora da Igreja", outorgado pelo papa Paulo VI. No Brasil, é mais conhecida como Teresa d'Ávila.

O Prof. Morejón e eu gostávamos muito de conversar sobre todas as manifestações de cultura. Todavia, nossos maiores júbilos intelectuais eram, em igual importância: (1) recitarmos, juntos, poemas que considerávamos de beleza ímpar; e (2) escolhermos um libreto de uma bela ópera e ler alguns trechos. Neste caso, cada um de nós tomava para si um dos personagens principais para leitura, e, posteriormente, apreciávamos tal ópera em DVD, em sua totalidade.

Este homem, licenciado pela Universidade de Salamanca, veio para o Brasil por causa de uma paixão: conhecera, na Espanha, uma bela jovem brasileira filha de espanhóis que aqui viviam. Lá se casaram e vieram para este lado do oceano - ela voltando para casa e ele na condição de imigrante.

Aqui ele prosseguiu estudos avançados na Universidade de São Paulo (USP) e foi construindo uma honesta, sólida e respeitada carreira acadêmica. Com a amada esposa, constituiu uma linda família e, mais tarde, e com muito esforço, fundou sua própria faculdade.

Hoje, repito, o Prof. Morejón aniversaria. Mas não posso cumprimentá-lo... Desde maio de 2004, meu amigo e mestre encontra-se no chamado "estado comatoso". Recebe todos os cuidados da família querida e de profissionais de saúde gabaritados e amorosos. Mas não acorda! Acredito que sua alma esteja humildemente cumprindo o seu tempo aqui na Terra e que, quando enfim o Pai Maior o chamar, meu Professor desencarnará em meio a muita luz, paz e entendimento.

Portanto, meu presente a este homem admirável, no dia de hoje, é o de muita oração e, nela, o meu mais profundo agradecimento. Este homem sempre acreditou no meu potencial, investiu em mim, nunca me ignorou, e sempre soube que podia contar comigo (como realmente contou em diversas ocasiões). Para mim, ele foi e é pai, amigo, mentor intelectual, exemplo de vida e símbolo de coragem.

Professor, vamos recitar nossos versos favoritos de Teresa de Jesús? Vamos? Eu ainda tenho o mesmo sotaque que o senhor, o sotaque da região de "Castilla y León" (em português, Castela e Leão):

Nada te turbe,
nada te espante.
Todo se pasa.
Dios no se muda.
La paciencia
todo lo alcanza.
Quien a Dios tiene,
nada le falta.
Sólo Dios basta.


Tradução ao português:

NADA TE PERTURBE,
NADA TE ASSUSTE,
TUDO PASSA.
DEUS, PORÉM, NÃO MUDA.
COM A PACIÊNCIA
TUDO SE ALCANÇA.
QUEM A DEUS POSSUI,
NADA LHE FALTA.
SÓ DEUS BASTA.

Paz e luz, Meu Professor!


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Leitores queridos, gostaria de solicitar um pouco mais de sua atenção para algumas notas de interesse:

1ª) Se um dia puderem visitar a Espanha, não fiquem apenas nas cidades pertencentes ao que apelido de "círculo vicioso do turista": Madri, Sevilha e Barcelona. Procurem outras cidades também! As menos turísticas são aquelas que mais revelam o verdadeiro espírito espanhol.

2ª) Seguindo o conselho acima, coloco-me à disposição para dicas. Uma delas está ligada a esta postagem. Trata-se de Alba de Tormes, onde faleceu Teresa de Jesús. Lá, na igreja anexa ao Convento das Carmelitas Descalças, há muita história verdadeira e coisas para serem apreciadas por olhos ávidos por cultura e conhecimento. E há, também, uma urna de prata com os restos mortais de Teresa e, num altar especial, as relíquias: o braço esquerdo e o coração da santa, mumificados.

3ª) Para quem acredita em reencarnação: O espírito que animou Teresa animara, na época de Jesus, Maria Madalena. E Teresa também foi incompreendida, pois, além de ser possuidora de extraordinária mediunidade (algo não aceito pela Igreja de Roma), "não tinha papas na língua" e, assim, falava francamente sobre tudo o que pensava, inclusive sobre o que julgava estar errado na Igreja como um todo. Ela tinha "o pavio curto" e era incansável. Desnecessário dizer que, enquanto amada por muitos, era odiada e criticada pelos que detinham forte poder econômico, religioso e político em sua época: os membros do Clero!

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Na foto, Prof. Morejón e eu (agosto de 2003). A meu convite, palestrou, em abril daquele ano, aos alunos do curso de Letras, que eu coordenava. Foram duas palestras, ou melhor, duas aulas, para os alunos do matutino, posteriormente repetidas para os alunos do noturno, e perfazendo, assim, quatro aulas. Os temas: "Dom Quixote" (obra de Miguel de Cervantes) e "A Poesia de Pablo Neruda". Meus alunos, tanto os de espanhol como os de inglês, ficaram com os olhos marejados ao se sentirem naturalmente abarcados pelas palavras, didática e emoção do nosso Professor. Tamanha foi a repercussão desses momentos, que pouco depois, em agosto, os coordenadores dos cursos de Direito e Turismo pediram ao Professor, por meu intermédio, uma aula sobre o "Quixote" para seus alunos. Esta aconteceu e foi igualmente inesquecível. O que não podíamos imaginar é que esta também seria a última aula do mestre. Poucos dias depois, ele ficou muito doente e teve que se afastar para sempre do que mais gostava de fazer: ser professor!

8 comentários:

  1. Professora:

    Parabéns pelo blog!

    Eu fui seu aluno na Ibero (de 1995 a 1998, se não me engano) e lembro nitidamente do Dr. Morejón, que sempre me pareceu uma pessoa humilde, apesar dos títulos acadêmicos. Eu devo parte do meu relativo sucesso como tradutor ao Prof. Morejón e sua paixão pela língua espanhola, pois estudei espanhol em um curso que, na época, era ministrado por professores da Ibero (inclusive, tenho um livro sobre o García Lorca autografado por ele). Hoje o espanhol é o diferencial da minha carreira. Fiquei triste quando soube do estado de saúde do professor e certamente orarei por ele.

    Fernando (que você às vezes chamava de "Angel"...).

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  2. Monkinha, adorei demais o blog de hoje. Incrivel a tua capacidade de desenvolver temas. Comeco pensando que vc vai homenagear alguem, ai vc vai pro automobilismo, homenageia o prof espanhol junto com a historia da santa, fala de coisas de cultura e coloca poema espanhol com traducao e tudo mais e ainda termina com dicas interessantes. A explicacao da foto foi uma conclusao bonita mas triste. Mas valeu saber sobre a santa. Eu nao conhecia nem a de Jesus nem a de Avila. Mas seu texto informou o suficiente pra gente poder fazer comparacao com a Maria Magdala. Hauhuahuahua, eh um espirito que causa - com todo respeito, claro. Filakia. Athina, a grega mais safa do mundo. kkkkkkkkkkkk

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  3. Muito linda sua homenagem! E em fim de semana de fórmula 1 agora sempre me lembrarei de 2009...

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  4. Professora, somente uma pessoa com a sua sensibilidade para produzir homenagem tão especial a um ex patrão! Geralmente nos esquecemos dos "ex", principalmente "ex patrões" (ex amores são mais difíceis de esquecer, rs). Mas a senhora fala sobre o sr. Júlio com tanta gratidão que pelo menos a mim, leitor, fica uma vontade incrível de ter conhecido este homem empreendedor e ao mesmo tempo sublime. Parabéns pelo texto, amada e inesquecível Professora Monica! Beijos do Vinicius, Mr. Rose.

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  5. Prof. Roberto de Almeida9 de novembro de 2010 às 20:45

    Parabéns pelo Blog, Profa. Monica. Tudo está excelente e espero que a senhora continue a nos presentear com seus textos que falam diretamente à alma. Um forte abraço do Prof. Roberto de Almeida, auditor ISO-FV-USP

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  6. AOS QUE COMENTARAM

    Queridos e queridas, obrigada pelos comentários! Agradeço o carinho com que se referem ao Prof. Julio Morejón, o único patrão que tive em minha vida e, mais que isso, um pai, um mestre, um amigo, meu mentor intelectual!

    CONVITE: Aos que visitaram mas não comentaram (Alguém mais?), fica a minha humilde rogativa para que escrevam!


    :: F E E D B A C K ::

    1) FERNANDO "ANGEL", lembro-me de vc muito bem, pois sua paixão pela Língua Espanhola era e é ímpar. Fico feliz em saber sobre os seus progressos e dou-lhe os meus parabéns! Estou curiosa para saber qual livro do García Lorca o Prof. Morejón autografou para vc. Digo isso porque, naquele evento do "buraco do metrô" da linha amarela (Está lembrado?!), quando pessoas e carros foram tragados, havia uma advogada que morreu agarrada a um volume de García Lorca que lhe fora presenteado pela biblioteca da nossa então gloriosa faculdade (temos até a marcação da página que ela estava lendo). Será a mesma publicação? Enfim, Fernando, use a sua "angelitude" e ore pelo nosso Professor, que, como vc bem disse, era muito humilde, embora tivesse conquistado inúmeros títulos acadêmicos e honrarias. Só os sábios não se perdem em meio a tantas homenagens e conquistas. E o Prof. Morejón era (e é ainda) um sábio, apesar do estado comatoso. Triste ver um homem tão especial em tal condição. Mas Deus deve saber o porquê, não é mesmo? Obrigada pela visita! ¡Qué Dios te bendiga!

    2) ATHINA, adorei a análise pontual que vc fez sobre a postagem. Obrigada! Aliás, acho que algumas pessoas nem quiseram ler sobre o meu Professor devido ao tamanho do texto. Se isso ocorreu, saíram perdendo!!! E vc disse bem: minha conclusão foi triste. Afinal, apesar da bela vida e obra do Prof. Morejón, o fato de sua enfermidade deixa um sentimento de perda irreparável.

    3) SAM GRECCO, obrigada por ler postagem tão longa e por apreciar a homenagem que fiz ao meu Professor. Conhecendo algo sobre ele, vc compreende muita coisa a meu respeito, especialmente no que concerne ao meu pensamento humanístico. Puxa, mas nem me fale daquele fim de semana de Fórmula 1, ano passado, aqui no Brasil. O evento e o nosso país então recebiam a visita da nossa diva Sarah Brightman, que depois nos brindou com três shows inesquecíveis. Choro de alegria, emoção e saudades até hoje! E acho que vc também! Obrigada, amigão!

    4) VINICIUS "MR ROSE", obrigada por continuar lendo este blog! Realmente foi uma pena vc nunca ter tido a oportunidade de conhecer o Prof. Morejón. Mas não se culpe: no seu caso, as faculdades eram diferentes!!! Mas lhe digo uma coisa: não fosse o Professor tão ocupado, eu poderia tê-lo convidado para uma palestra para vcs. A presidência da FMU certamente se sentiria honrada em organizar um evento para receber alguém tão especial!

    5) PROF ROBERTO, nosso atento e respeitoso auditor! Obrigada pela visita e pelo comentário. Pena que o senhor não tenha conhecido o Prof. Morejón, já doente na época da auditoria. Sobre meus textos, a proposta do blog é mesmo a de falar à alma. Esta, em minha humilde opinião, abarca a emoção e a razão de cada ser humano! Prof. Roberto, visite esta página sempre que puder, por favor! E fique à vontade para comentar. Será sempre uma grande honra!

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  7. Minha querida teacher:

    Foi realmente comovente o post a respeito do Prof. Julio Morejón. Na minha opinião, ele era a alma da Ibero, e, coincidentemente ou não, após o seu afastamento, a instituição tomou um rumo a qual não esperávamos.
    Fui aluna da Ibero de 1996 até 1999, no curso de Letras/Tradução, período da manhã, e durante esse período, pude testemunhar a força que esse Centro Universitário possuía. O que me atraía era a filosofia o qual se pregava a importância do conhecimento, a valorização da cultura, e acima de tudo, o respeito pelo profissional. Tudo isso vindo do trabalho respeitoso do nosso querido Prof. Morejón, o qual contagiava alunos e professores naquela instituição.
    Quantas vezes eu o assisti em palestras na faculdade, no primeiro CIATI, e espantada, sempre me perguntava: "Será que um dia terei pelo menos 1% do conhecimento do Prof. Morejón?"
    Foi graças a ele que me interessei em estudar a língua espanhola mais a fundo, pois a cultura e a história por si só eu já era uma apaixonada, mas precisava só de um empurrãozinho...
    Felizmente, cultivei bons momentos na Ibero e, graças a Deus, não fui testemunha do que essa se transformou, após o afastamento do nosso saudoso reitor.
    Fui sua aluna nos anos de 98 e 99 (eu era da turma do Fabiano, Marcos...lembra?), e desde aquela época eu já a admirava por tudo o que você havia feito por aquela instituição. Apesar de o reconhecimento não ter vindo por parte da nova reitoria, acredito que o mais importante é o reconhecimento por parte dos alunos. Você, igualmente ao Prof. Morejón, é um exemplo para mim daqueles professores que sempre estarão presentes em nossas mentes e que carregaremos sempre em nossos corações!
    É isso aí, my dear teacher, thanks for all!!
    Super beijos de sua ex-aluna
    Juliana Brandão

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  8. Oi, Juliana!
    Que bom saber que acertei sobre qual Juliana era (é) vc! A forma de se expressar e a ternura nas palavras me deram a dica, mas eu precisava confirmar. Obrigada!
    E obrigada, igualmente, pela sensibilidade demonstrada pelo Prof. Morejón. Seu pensamento sobre o conhecimento dele é como o meu: "Ah, se eu tivesse 1% desse conhecimento todo..."
    Pois é, minha querida, ele era um verdadeiro gestor educacional, pois amava a educação, o conhecimento e as pessoas e, ao mesmo tempo, sabia gerir sua faculdade. Um "Quixote" com os pés no chão!
    E vc disse tudo: o Professor era a alma da Ibero. Com seu afastamento, a Ibero definhou até morrer (=ser comprada). De minha parte, fiquei sem norte, tamanha a minha identificação com a instituição e seus propósitos! E enquanto o Professor espera, em coma, a sua hora de partir, eu, bem desperta, mas com o coração apertado, espero a minha hora também. Vc não imagina no quê me tornei depois da morte da facul... Quantos problemas físicos e emocionais, incapacidade para o trabalho (medos diversos), falta de $$$, etc. Cada dia é uma batalha que travo contra uma vontade imensa de desaparecer para sempre! Mas é nesse ponto que também aprendo com o Prof. Morejón: lá está ele, com o espírito sozinho, pacientemente esperando que Deus apague a chama que ainda ilumina seu corpo. Essa espera vem desde o fim de maio de 2004... E Deus é o único a saber até quanto irá...
    Juliana, obrigada por tudo: por ser humana, por ser atenciosa, por ser sensível e não se envergonhar disso. Vc é super!
    Bjs e saudades.

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