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12 novembro 2010

O BRASILEIRO. O HERÓI. O CAMPEÃO.


Em minha postagem anterior (“Ele confiou em mim”), iniciei mencionando o fato de que teríamos um final de semana de Fórmula 1 aqui em São Paulo, no autódromo de Interlagos. E depois parti para outro tema que, em verdade, era, é e sempre será mais importante do que a minha amada F-1.

Pois hoje também começo com automobilismo, mas vou focar um homem em especial. Um homem que mudou a F-1: Ayrton Senna.

Sabe aquela sensação de algo se quebrar dentro de você mesmo? Sabe aquele vácuo que fica após tal quebra? E a tristeza de saber que tal vácuo nunca mais será preenchido?

Sinto-me assim muitas vezes, nas mais diversas situações, principalmente no que concerne pessoas que partem da vida e/ou pessoas que partem da minha vida e/ou pessoas que partem a minha vida... Perceba a diferença, caro leitor!

Quanto às pessoas que partem da vida, foi assim que me senti há dezesseis anos, mais precisamente no dia 1º de maio de 1994, um domingo. Acomodada no sofá de meu apErtamento, enquanto meu marido jogava futebol com os amigos não muito longe dali, vi o grande piloto Ayrton Senna morrer diante de meus olhos. Coração e alma caíram em interminável vácuo...

Paulista nascido em 21 de março de 1960, Ayrton Senna da Silva correu na categoria mais importante, cara e “badalada” do automobilismo mundial durante dez anos, passando pelas escuderias Toleman, Lotus, McLaren e Williams. Foi tricampeão mundial (1988, 1990 e 1991) e era uma figura carismática, com sangue quente mas um coração dos mais generosos. A nós, (tel)espectadores, dava mais orgulho de nossa nacionalidade cada vez que aquele arrojado rapaz, de caráter firme, ferrenho cobrador da própria perfeição, mas dono de um olhar meigo e pacífico, cruzava a linha de chegada em primeiro lugar e desfilava em volta extra com a bandeira brasileira, até então escondidinha consigo, no cockpit de sua máquina.

Como todos os vencedores na vida, despertou inveja e inimizades no meio, mas nunca agiu de forma a “puxar o tapete” dos outros competidores e dos chefões da F-1. Sua busca por excelência nas pistas começava nos bastidores, onde atuava como analista e crítico rigoroso de regras e procedimentos, e onde clamava pela volta da antiga Comissão de Segurança dos Pilotos. Seus conselhos e críticas encontravam apoio de muitos, mas, igualmente, a provocação e o escárnio de muitos outros. Ayrton respondia da melhor forma possível, ou seja, com mais competência e com desconcertantes manobras e belas vitórias, apresentando-se no pódio com muita vibração e com sua inseparável bandeira. Era amado e admirado no Brasil e em todos os países do mundo por onde passava o "circo" da Fórmula 1 e/ou nos quais as corridas eram transmitidas por rádio e, é claro, pela mídia televisiva.

Na virada para 1994, e chateado com o mau desempenho que sua McLaren vinha tendo após a conquista do tricampeonato (1991), acabou assinando com a Williams – esta, na época, desenvolvia carros campeões para pilotos igualmente campeões, ou seja, para pilotos que soubessem verdadeiramente dirigi-los!

O que ninguém esperava, muito menos o próprio Senna, é que naquele mesmo ano a Williams fosse enfrentar uma série de dificuldades na concepção de seus carros. E em sua terceira corrida da temporada, no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, na Itália, perdeu o controle do carro, bateu violentamente num muro e morreu instantaneamente.

O caso foi investigado... Porém, como tudo que envolve muito dinheiro (e aqui a Fórmula 1 não é exceção), chegou-se a um veredicto depois de muito tempo... Mas as controvérsias persistem.

Senna teria abusado da confiança e batido o carro? Não! Não mesmo, inclusive porque, no dia anterior, durante os treinos, o brasileiro Rubens Barrichello se acidentara e o austríaco Roland Ratzenberger morrera. Ayrton fez questão de visitar Barrichello no hospital e de vistoriar o lugar do acidente fatal de Ratzenberger. Tal procedimento cauteloso por parte do piloto, aliás, gerou grande polêmica entre os chefões e os patrocinadores!

Ayrton sabia que algo estava errado, e sua preocupação ficou evidenciada pouco tempo antes do início da corrida. Os canais de televisão que faziam a cobertura do evento mostraram o piloto em seu carro, com o olhar distante, como que antevendo algo nefasto. Este semblante distante e triste está até hoje gravado em minha mente!

Porém, mais triste ainda foi saber que a Williams fizera um reparo negligente, ao soldar “porcamente” a coluna (ou barra) de direção do carro. Esta, já quebrada, deveria ter sido substituída. Entretanto, optou a equipe por uma solda, justamente em ambiente onde o calor impera – dentro e fora do carro.


Ao bater forte na tal de Tamburello, uma curva que somente depois desta fatalidade foi remodelada, observei, na TV, a cabeça de Ayrton pender para um dos lados e ouvi um afoito locutor exclamar:

- Ah, ele mexeu a cabeça! Que bom! Foi uma batida forte, mas apenas um susto!

Um susto?

O “safety car” (carro de segurança) foi acionado e os demais “bólidos” seguiram-no, como de praxe, para que houvesse o socorro, a retirada do carro e a limpeza de possíveis pedaços que tivessem ficado perigosamente no caminho.

Os primeiros fiscais de pista a chegarem ao local perceberam que não podiam mexer nele. Teriam que esperar os médicos, que logo chegaram, tendo à frente o então chefe da equipe médica da Fórmula 1, o renomado neurocirurgião Prof. Dr. Sidney Watkins. Este, ao ver as condições do piloto, exigiu sua imediata remoção para o equipadíssimo Hospital Maggiore, na cidade de Bolonha. O médico notara a gravidade do acidente, que literalmente esmagara e perfurara o cérebro do piloto.

Com Senna removido de helicóptero, o “safety car” recolheu e a corrida prosseguiu.

Para mim, e para tantas outras pessoas, leigas e entendidas, o piloto morreu na pista. Contudo, se o fato fosse declarado, a corrida teria que ser cancelada. Naquela época, pelo menos, havia, na Itália, uma lei que suspendia qualquer competição esportiva caso um atleta morresse nela. Somente após investigações e conclusões, a competição poderia ser retomada (ou não).

Pois se havia tal lei (não sei se ainda há), fica uma pergunta de fácil resposta: Por que a morte do piloto não foi declarada?

Porque, com a competição cancelada até segunda ordem, o que demandaria tempo, haveria grandes perdas financeiras por parte das escuderias e, principalmente, dos patrocinadores, bem como de todos aqueles que “mamavam” na F-1, aproveitando o evento em cada cidade para majorar preços.

Aliás, neste mundo globalizado e falsamente mais humano, tal situação não só perdura, mas piora a passos largos, na F-1 e praticamente em todos os segmentos da atividade humana, incluídos aí, infelizmente, o abuso de poder de governos, a prepotência das grandes corporações, a burocracia da saúde pública e das empresas de saúde, a mediocridade da educação (que não é mais processo, mas “produto”), os atravessadores infiltrados na agricultura, a criação e o aumento de impostos cujo destino não é o prometido, a especulação de dinheiro, a guerra cambial, etc. E tudo isso regado a muitas regras complexas, chefias burras e salários desrespeitosos para a maioria da população mundial. Como diz a nossa roqueira maior, a Rita Lee, é “pouco milho pra muito bico / muita caca pra pouco pinico”, na canção “Ti Ti Ti”, composição que assina com Roberto de Carvalho.

É, eu até que gostaria de dar alguns exemplos nas áreas da saúde e da educação, mas vou ficar por aqui para não deixar que o “logos” fale mais alto. Já chega a tristeza que tais desatinos causam ao meu “cardio”!


Concluindo, por ora, sobre Ayrton Senna, gostaria de citar algumas palavras do médico Sidney Watkins, hoje aposentado. Depois de oficialmente declarada a morte do piloto no Hospital Maggiore, em Bolonha, ele contou como estava o piloto ainda na pista de Ímola:

- Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras e estava claro, por suas pupilas, que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, eu senti sua alma partir nesse momento.

Grande doutor! Você enxergou Ayrton não apenas como um corpo dependente de um coração e comandado por um cérebro. Você, doutor, apesar de seu agnosticismo, viu o homem Ayrton como possuidor de uma alma. E a alma partia naquele momento... Partia tranquila, apesar da rapidez dos fatos. O piloto tinha uma forte espiritualidade. Tinha uma ligação muito particular com Deus e sentia que, ao pilotar, era muito ajudado e que, muitas vezes, entrava em outra dimensão.

Não tivesse encontrado a morte na tal curva de nome Tamburello, Ayrton Senna da Silva, brasileiro e “cidadão do mundo”, desfilaria naquele dia, caso vencesse a prova, com a bandeira da Áustria, sua homenagem particular ao colega que falecera no dia anterior, Roland Ratzenberger.



 
Em tempo:

(1) Neste fim de semana, termina o Campeonato de Pilotos de 2010, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. No sábado 13, a definição de posição no grid de largada. E no domingo 14, a corrida. A transmissão para a TV brasileira será às 11h, nos dois dias. E a final será emocionante devido à indefinição constante que marcou o campeonato deste ano: Alonso e Webber têm mais chances. Mas Vettel e Hamilton não podem ser descartados. Ok, não há o mesmo encanto da época de Ayrton Senna, mas, para fãs de velocidade como eu, ainda há muita adrenalina!!!

(2) Estreia hoje, sexta-feira 12, nos cinemas brasileiros, o filme-documentário "SENNA. O BRASILEIRO. O HERÓI. O CAMPEÃO". Imperdível!!!

5 comentários:

  1. Seus textos são mágicos. Parabéns!

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  2. Minha amiga e irmã,
    Fico muito contente com a homenagem a nosso eterno herói Ayrton Senna. Essas homenagens tornam a dar vida a este nosso imortal e inesquecível. Possibilitam relembrá-lo ou conhecê-lo. Parabéns !!!
    Vejamos o documentário (filme).
    Kátia

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  3. Professora Amada do Nosso Coração!
    Adoramos sua homenagem ao para sempre grande e inesquecível Ayrton Senna. Se morássemos todos na mesma cidade, comentei com a Fabi, formaríamos dois casais para juntos vermos o documentário no cinema e depois jantar. A senhora e seu esposo, Fabi e eu, que tal?
    Mais uma coisa: a senhora gostou do resultado da fórmula 1 hoje? Eu só vi o finalzinho mas sem preferencias. Os brasileiros estão tão mal! Algum brilhou como o Senna depois da morte deste?
    Beijos e abraços de todos da Rose Family e, em especial, deste seu para sempre admirador,
    Vinicius Gonçalves Rose, "Mr. Rose"

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  4. Prezada Profa. Monica,
    Parabéns pela bela homenagem ao Ayrton Senna do Brasil! Seu texto recupera o homem, o atleta e o herói que nos mantinha bem acordados nas manhãs de domingo. A nós, que o conhecemos, há um vazio desde que sua alma partiu (interessante a observação do médico agnóstico). E aos que eram pequenos ou nem eram nascidos, fica aqui uma ótima apresentação de brasileiro exemplar. Parabéns novamente e um grande abraço do amigo e admirador de sua pessoa sensível.
    Prof. Roberto de Almeida - auditor/FV-USP

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  5. AOS QUE COMENTARAM

    Queridos e queridas, obrigada pelos comentários! É bom saber que o nosso mais carismático atleta, o saudoso Ayrton Senna, deixou marcas positivas no caminho que trilhou junto a todos nós, brasileiros e irmãos de outras nacionalidades!

    CONVITE: Aos que visitaram mas não comentaram (Alguém mais?), fica a minha humilde rogativa para que escrevam!


    :: F E E D B A C K ::

    1) PI, amei seu primeiro comentário sobre o meu Blog: simples, objetivo e cheio de sentimentos bons. Amado, é o seu incentivo contínuo que me mantém viva! Obrigada!

    2) KÁTIA, minha irmã e amiga, obrigada por passar por aqui e registrar seu comentário. Sabe, nunca me esqueço daquele ano de 1994. Quando a seleção de futebol disputava a final contra a Itália nas penalidades (Copa dos Estados Unidos), vc, nervosíssima, disse o seguinte em prece sentida e em voz alta: "Deus, que a Itália me perdoe, mas ela já levou o nosso Ayrton Senna neste ano. Permita, agora, que o Brasil vença esta final contra a mesma Itália, por favor!"

    3) VINICIUS, seria ótimo (e uma honra para nós) o cinema e o jantar com vc e a Fabi. Quem sabe dá certo qualquer dia desses?! Obrigada por pensar nisso! Quanto ao resultado da F-1 no domingo 14, decidi, tendo em conta os comentários feitos, escrever um texto próprio. Como vc poderá apreciar, nada tenho contra o Sebastian Vettel, o campeão de 2010. Mas o meu "corazón español" ficou meio que tristinho. Podem falar o que for, mas o Alonso é espanhol... e a Espanha é uma pátria querida para mim!
    P.S. Obrigada por ser um "seguidor" do meu Blog!

    4) PROF. ROBERTO, agradeço seu texto elegante e pertinente. E o senhor lembrou bem: Ayrton era também conhecido por Ayrton Senna do Brasil. Não exatamente pelo Silva, seu último nome, tão popular no país, mas, e principalmente, pelo orgulho que demonstrava no carro e no pódio ao segurar, com inenarrável patriotismo, nossa bandeira brasileira!
    P.S. Obrigada por ser um "seguidor" do meu Blog!

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